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19 de Abril de 2024

Ex-auxiliar de pedreiro sai do interior da Bahia e hoje é diplomata, e diz: "Cotas são o caminho..."

Jackson Oliveira tinha esse objetivo desde pequeno, mas só depois descobriu que era um sonho muito caro

Publicado por Coruja Concurseira
há 8 anos

Ex-pedreiro sai do interior da Bahia e hoje diplomata e diz Cotas so o caminho

Ex-auxiliar de pedreiro, Jackson Luiz Lima Oliveira passou no concurso para diplomata em 2008. Ainda não havia a Lei de Cotas, mas ele teve direito a uma ação afirmativa que o Itamaraty oferece há 13 anos: o Programa Bolsa-Prêmio de Vocação para a Diplomacia. São R$ 25 mil anuais, em dez parcelas mensais, para o candidato negro ou pardo custear despesas com professores, livros e cursos preparatórios. O benefício pode ser renovado até quatro vezes — desde que o candidato passe na seleção da bolsa em cada uma das renovações. Como diplomata, Oliveira ficou três anos trabalhando na África e hoje é assessor do diretor do Departamento de África.

No Brasil, os negros são 54% da população, mas representam apenas 32% do total de servidores públicos federais.

Em carreiras prestigiadas, essa proporção não chega a 15%. A quantidade de brancos ocupando cargos públicos com nível superior é três vezes maior que a de pretos e pardos.

Para o diplomata Jackson Oliveira, essa diferença é bastante óbvia. Filho de um carteiro e de uma professora do interior da Bahia, ele conta que, mesmo na universidade federal em Salvador, não via professores negros.

“Estudei dez anos entre graduação, pós e mestrado e nunca tive um professor doutor negro. Em compensação, ia ao banheiro e a menina que estava limpando era negra”.

Para ele, a melhor forma de resolver a curto prazo o que chama de “construção desse imaginário que leva ao racismo velado no Brasil” é por meio das cotas raciais.

Desde 2014, o governo federal sancionou a Lei 12.990, que institui 20% de cotas para negros nos concursos públicos federais, quando há três cargos ou mais.

A legislação já garantiu vagas para 638 candidatos negros ou pardos no Poder Executivo em apenas um ano, segundo levantamento da Secretaria de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, vinculada ao Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.

Para se tornar diplomata, o profissional deve ser aprovado no concurso do Instituto Rio Branco e passar por dois anos de formação.

O baiano de 45 anos conta que desde cedo tinha o objetivo de seguir essa carreira, mas só depois descobriu que era um sonho muito caro. "Além de ser historicamente uma casa para brancos que iam representar o País no exterior, a entrada é muito cara. Os alunos que ingressavam o Instituto Rio Branco eram de famílias renomadas, que falavam várias línguas, estudaram em escolas boas. E a gente sabe que isso não acontece com a maioria esmagadora da população negra no Brasil".

O desejo só se tornou realidade depois de Jackson conhecer o Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco, que concede Bolsas-Prêmio de Vocação para a Diplomacia. Desde 2003, o instituto concede bolsas no valor de R$ 25 mil para afrodescendentes com intuito de ajudar na preparação para o concurso durante o período de um ano.

Jackson conseguiu ingressar na terceira tentativa. Mesmo com o auxílio, em sua turma de 150 diplomatas apenas dois eram negros.

Com a Lei de Cotas para os concursos públicos, Jackson espera que esse número aumente. “Felizmente, o problema econômico para entrar no Itamaraty está diminuindo por causa das Bolsas-Prêmio. Só estou aqui hoje por causa dela. Mas quando você institui 20% das cotas, automaticamente você já coloca negros nesses cargos”, comenta.

Com mestrado sobre a presença dos negros na diplomacia brasileira em seu currículo, ele explica que nos últimos 12 anos a média de negros por turma do Instituto Rio Branco é de no máximo três.

"Cotas são o caminho para elevar a presença de negros no serviço público"

Neste ano, com a aplicação da Lei de Cotas para o concurso público, a próxima turma de 30 diplomatas terá necessariamente seis negros. “Em 12 anos, são 21 negros que entraram no Itamaraty por causa da Bolsa-Prêmio. Em dez anos de Lei, serão pelo menos 60. São três vezes mais, em menos tempo. O sistema de cotas vai ajudar consideravelmente a presença e a representatividade dos negros no serviço federal”, diz.

A história de Jackson é realmente incrível, quem conhece sabe que passar no Instituto Rio Branco é uma das tarefas mais difíceis que existe. No entanto, com dedicação, planejamento e muito mas muito estudo é plenamente possível.

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com informações Portal Brasil e Senado. Leg

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23 Comentários

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Não há negros ou não há acesso de pobres no serviço público? Um auxiliar de pedreiro branco tem mais chances do que o negro? Ninguém enxerga isso?

A política de cotas raciais é uma aberração que só foi adotada nos EUA e se mostraram um total fracasso: http://pedromaganem.jusbrasil.com.br/noticias/259174008/sem-tempo-para-sonhar-eua-tem-mais-negros-na-prisao-hoje-do-que-escravos-no-seculo-xix

Parabéns ao Sr. Jackson Oliveira pelo seu sucesso, mas por que ele não incentiva a ajuda a outros pobres independente da cor? Quer dizer, ele quer que haja cotas somente para negros, independente da condição social.
Ele não se tocou que era a sua pobreza, não a sua cor, que lhe dificultava o acesso ao ensino?

Implantar um sistema de cotas raciais, num país onde o grau de mestiçagem é altíssimo, como o Brasil, é ilógico. Aqui não é Estados Unidos. É só verificar o caso emblemático dos irmãos gêmeos, em que um foi considerado negro e o outro não pela Unb.

A solução, agora, é um tribunal racial, onde terceiros irão definir a tua raça? É isso que já está acontecendo em âmbito estadual e federal. Quer dizer, você pode se achar pardo, mas se no dia da entrevista estiver mais pálido de nervoso, ou mesmo alguém não for com a tua cara, você poderá ser "sentenciado" como branco?

Essa tal "comissão de verificação com relação à autodeclaração" parece aqueles órgãos nazistas que verificavam o fenótipo de supostos judeus! É absurdo. E quem disse isso não fui eu, mas o Procurador Cabeleira, que usou esse mesmo exemplo.

E os casos em que a família inteira é negra/parda e o filho nasce branco? Quer dizer, a pessoa teve todas as condições sociais de uma família negra, todavia, não poderia, em tese, concorrer às vagas.

O ideal seria um critério puramente social, onde a inclusão de mais pessoas negras e pardas, que realmente não tiveram condições de estudos, seriam automaticamente beneficiadas.

Pelo sistema atual, na questão de inclusão racial, somente os negros e pardos com condições sociais melhores têm oportunidade. O pobre, independente da raça, será excluído.

Nivela por cima, não inclui os mais pobres. É mudar para continuar tudo igual.
Em suma, o sistema não inclui satisfatoriamente, haja vista outros do Itamaraty, negros e pardos, não inclui pobres, não funciona!!! continuar lendo

Perfeita a sua explanação...penso da mesma forma!!! E desde quando a cor da pelé é fator de diferenciação??? Só no Brasil um absurdo destes...Cota para os que não possuem recursos, tudo bem, é algo aceitável. continuar lendo

Sou a favor das cotas sociais, e não das raciais.
Acho uma discriminação reversa.
Como justificar ao menino branco do morro que ele não tem o mesmo direito de acesso que seu vizinho, que é preto.
Ah, antes que falem alguma bobagem, não existe raça negra, mas sim cor branca e cor preta.
Somos todos da raça humana e devemos se tradados igualmente. continuar lendo

Aprovo as ditas quotas sociais, assim como você...

Mas só para acrescentar, o problema entre preto e negro, conforme "reza a lenda" vem desde o período da escravatura, onde antes da abolição eram chamados de "pretos", após, de "negros". Por isso ainda persiste a discussão.

Assim, para evitar uma discussão desnecessária, em que pese a cor ser "preta", podemos chamar a etnia de "negra".

Creio que o legislador poderia conhecer o pessoal da região do Contestado em Santa Catarina, a região mais pobre do estado. Não é difícil ver brancos passando fome e frio (e olha que lá é frio de verdade).

O sistema de quotas é necessário, mas deveria ser mais generalizado. continuar lendo

Quando entrei na faculdade ainda não havia política de cotas, o número de pessoas negras e pobres era radicalmente menor. A política de cotas é algo que permite que nos organizemos coletiva e politicamente em espaços de hegemonia branca e classe média, nos permite também enfrentar nossos medos, angústias, superar, receber empatia, fortalecer vínculos. Triste é ver uma pessoa branca vir aqui falar de cotas raciais quando em toda sua vida ela nunca soube a sensação que é carregar uma bola de ferro acorrentada aos pés. continuar lendo

Parabéns! Belas palavras!
Como é triste ver pessoas falando algo em que na verdade não fazem a mínima idéia. Segundo alguns, isonomia é ter nos colégios particulares ou nas faculdades 1, 2, 3 negros em uma sala composta por mais de 50 pessoas. Isso é igualdade? Acredito que não né.
Existe uma dívida a ser paga e essa lei de cotas serve para começar esse pagamento, então, parabéns novamente pelas palavras continuar lendo

Gostaria de saber por quê negro com diploma de nível superior incomoda tanto... continuar lendo

Tenho amigos negros, assim como meu pai e meu irmão, que se irritam com esse sistema de cotas. Existe, sim, e sempre existiu, problema social que não tem nada a ver com a cor e sim com a concentração de renda enorme que nosso país tem.
Me diz: e o branco, filho de pobre, como fica, originários de portugueses e italianos que vieram ao Brasil substituir os negros nas lavouras e demais ocupações, sendo tratados praticamente como escravos e ainda não conseguiram quebrar a barreira da pobreza? Quer dizer que eles são indivíduos desmerecedores de uma cota? Quer dizer que teria sido um grande negócio terem se miscigenado com negros para os filhos conseguirem cotas?
Tenha o mínimo de raciocínio, o mínimo de decência e acabem com essa história de que negros com diplomas incomodam. Isso é coisa de quem engoliu esse discurso segredador, supremacista e malintencionado de quem vive de dinheiro de ONGs e de votos.
Briguem por mais igualdade social e não igualdade racial. Primeiro os problemas urgentes, depois os menos urgentes. Cada um, egoisticamente, quer defender o seu, a verdade é esta. As próximas barreiras serão: os negros gays, os negros pobres, os negros mais negros, os negros filhos de escravos negros na África e assim por diante. Isso é extremamente ridículo. Dívida histórica é uma das maiores aberrações criadas por alguém e aceita por uma minoria com pouca capacidade de reflexão e alto ressentimento e inveja dos outros. Em breve, irão ter inveja dos pares negros que tiveram sucesso! ESPEREM, QUE ISSO NÃO TARDARÁ! continuar lendo

Eddie dos Santos, me diga uma coisa: ser tratado PRATICAMENTE como escravo têm o mesmo sentido de ser escravo? continuar lendo

Bom, das palavras do homenageado, pude perceber que o verdadeiro racismo velado se encontra nele.
Vou falar qual é o caminho para se chegar ao serviço público federal ou aonde for: o estudo, o suor, a dedicação e até mesmo as lágrimas, que nos fazem mais fortes, mas não as regalias, as doações, os privilégios, isso tudo é o signo do demérito, da humilhação e da comodidade. Resgatar o passado e buscar compensá-lo de alguma forma, penso ser justo, mas não fazendo isso em detrimento de outros direitos, outros sonhos, enfim.
Tratar os desiguais de forma desigual, penso também ser justo, isso é isonomia; mas considerar por desigualdade excesso de melanina, isso é o preconceito escancarado.
Se achas que chegou à diplomacia graças aos outros, mas não por merecimento, só tenho a lamentar. continuar lendo

Marcelo, você está certo!
Melanina na pelé não faz de ninguém menos inteligente.
É crime contra o povo pagar o mesmo para ter menos, submeter o contribuinte a serviço de pior qualidade para obter votos pelo populismo é, de fato, uma indecência. continuar lendo